Às vezes eu paro e fico pensando o porque de estar aqui em Curitiba
Não tenho espírito aventureiro
Não sou muito dado a coisas novas, confesso que sou até um pouco misoneísta.
Mas alguns dia atrás aconteceu algo que me fez parar pra pensar um pouco e me deu motivação extra pra tentar coisas diferentes.
Por descuido eu perdi meu ônibus por não atentar que ele estava na plataforma errada. (Ninguém me avisou também)
Estava sorumbático e impaciente!
Eis que surge aquela figura macilenta ao meu redor.Um senhor não muito simpático de porte elevado, com ombros largos, calçava um sapatênis amarelado não muito gasto.
Usava um suéter azul com uma camisa com um colarinho Frances, amarelada e surrada.
tinha um boné branco da adidas bem nivelado a cabeça, um cheiro de desodorante forte misturado com um mal odor de cigarro barato.
Não detive muito a minha disposição a falar-lhe algo. Porém as circunstâncias me impediram de me furtar ao completo silêncio.
E como todo carioca que se preze. Puxei um assunto qualquer.
Falei da demora do Ônibus. Ele estava mal humorado, indiferente e bastante irritado com alguma coisa. Mas me brindou com alguns palavrões e insultos a empresa de Ônibus e por fim perguntou de onde eu era por não reconhecer o meu sotaque com oriundo dessa região.
Assenti que realmente não era, e contei que era do Rio.
Com semblante mudado e já não mais tão antipático. O Senhor de olhos verdes dilatados e profundos, começara a falar de sua vida com ar de saudosismo
Dizia ele que ja morou no Rio em Copacabana num grande apartamento
E assim iniciou a sua jornada.
Quando era mais jovem conheceu dois homens que vinham do Rio e lhe pediram que indicasse uma vidraçaria boa e barata como ele mesmo disse: ensinou as 'manhas' para os homens a que tudo indica, eram sócios.
Foi então que os homens deixaram um cartão para ele, revelando também uma a promessa de quando, ou se, um dia ele fosse ao Rio os procurasse.
Ele não temeu em nenhum momento, endividado e cansado da vida aqui no Sul. Sem ao menos hesitar conseguiu um dinheiro emprestado e foi com apenas a roupa do corpo para o Rio.
Ao chegar se instalou em um hotel sem ter dinheiro e saiu a procurar os homens que lhe deram o cartão
Sem muito exito, demorou três dias para obter uma solução. Enfim encontrara os homens, explicou o modo como veio parar no Rio e que estava devendo dois diárias no hotel e que, sobretudo, precisava de um emprego.
Os homens apesar de achá-lo muito louco, não lhe negaram o favor.
Um dos sócios tinha um apartamento que acabara de adquirir e permitiu que o Sr. fosse morar lá com a promessa de que ele cuidasse de seus filhos no fim de semana. Para que assim os garotos não fossem levado pelas más influências da juventude.
Com o tempo o Sr. começou a trabalhar numa loja do dono do apartamento e logo, por demonstrar ser digno de confiança, assumiu a gerencia.
Dizia ele que a loja não vendia quase nada. Até que ele começou a gerenciá-la.
Colocou um plano meio macabro e inconseqüente em prática.
Toda a noite passeava pelos calçadões de Copacabana e mexia com as damas de companhia que ali estavam.
Ele se tornou amiga delas, ganhou sua confiança. Simplesmente dava atenção e cuidava delas sem pedir nada em troca.
Até que ele decidiu mentir descaradamente disse pras mulheres dizendo que a loja estava falindo, que precisava vender e que estava manipulando as receitas da empresa pra que nem os chefes e tampouco o governo pudesse saber a que pé estava a o 'status quo'
As mulheres decidiram então ajudá-lo de alguma forma e implementaram um planejamento audacioso:
Elas levavam seus clientes pra loja e compravam toda sorte de roupas depois devolviam para a loja. E assim ele vendia as roupas duas vezes.
O Sr. me afirmou que o plano era infalível e que a loja nunca experimentara tanta prosperidade financeira.
Até que os sócios decidiram vende-la, pois estavam com outros planos.
Ele até pensou em juntar dinheiro e comprá-la, mas era tarde demais segundo seu relato; Renato Aragão já havia comprado antes que ele pudesse se manifestar.
Mas não acabaria ali a sua história, ao mesmo tempo ele descobrira que uma mulher que ele conhecera, oriunda do Rio Grande do Sul com que teve um caso de pouca duração estava grávida.
Então lá se foi ele a escrever mais uma vez uma parte de sua história de volta ao Sul não mais no Paraná, mas perto de suas raízes.
O Sr. foi bem conciso nessa parte da história, parece-me que falava com saudades e também um pouco de desprezo.
Foi feliz a sua maneira, mas não encontrou a completude de tudo que queria, obteve muitos recursos lá
construiu muitas coisas, teve três filhos com a única mulher (ao meu ver) que ele falara com paixão.
Mas desistiu de tudo e voltou para o Paraná.
Atualmente o Sr mora no meu bairro, trabalha de porteiro em Curitiba e sonha e um dia ver seu filho mais novo formado.
E por isso desprende todas as suas finanças para esse objetivo.
Mesmo tão cheio de si, e com palavreado muito baixo e chulo. De alguma forma aprendi muito com aquele Sr.
Ele era seguro por mais que isso parecesse loucura. Parecia estar feliz por ter feito tudo a sua maneira e conseguido chegar onde estava.
Despedi-me sem nenhuma expectativa aparente de ve-lo novamente
Não sei seu nome, nem me lembro mais da sua aparência, (comecei escrever o post dias atrás e esqueci de terminar por isso falta muito desfecho ashasuasauh)
Contudo, dedico esse post ao Sr. que me ensinou que a vida é cheia de riscos e pra se escrever uma história devemos ser totalmente desprendidos de covardia
Que nem sempre se vê pra onde esta indo, mas pode-se caminhar com a certeza que esta chegando em algum lugar
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